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NOSSO CORAÇÃO EM MEIO AO CAOS: Vivendo uma fé sem negligenciar a vida.

Ontem estava congregado e o sermão me trouxe vários pensamentos e confrontações. Em meio à adoração e à exposição da Palavra, percebi o quanto temos sido tragados pela rotina, pelas pressões invisíveis e pelas exigências que nos cercam por todos os lados, sejam elas pessoais, familiares, sociais ou espirituais.

Vivemos numa era marcada por estímulos ininterruptos, metas inalcançáveis, autocobrança e frustrações silenciosas. Somos pressionados a manter a forma física, não apenas por estética, mas por saúde; a ter boa alimentação, regular o sono, cuidar da mente, do corpo e da alma... mas conseguimos de fato colocar tudo isso em prática com a constância e intensidade necessárias?

Lutamos contra o tempo, contra a fadiga física e mental, contra os nossos próprios limites. A saúde, por exemplo, é uma preocupação legítima, mas nem todos têm acesso a um plano digno, o que gera insegurança.

Os pais, ao olharem para os filhos, sentem-se, muitas vezes, derrotados diante de uma geração sedenta por telas, distrações e estímulos artificiais. Vemos crianças que não sabem brincar sozinhas, não desenvolvem autonomia e pais exaustos tentando administrar um território cada vez mais caótico. O coração pesa. A mente se cansa. A alma se cala.

Na vida social, também nos sentimos frustrados. O tempo que antes era para cultivar amizades e vínculos familiares é engolido pelo excesso de trabalho, estudos, afazeres... O que nos sobra é a sensação de que estamos perdendo pessoas importantes, afastando-nos daqueles que amamos e dando a entender que não os valorizamos.

Não por mal, mas por não sabermos mais como pausar a correria. E quando olhamos para as finanças, o sentimento é semelhante: vivemos em um sistema que oprime os mais fracos. Impostos abusivos, inflação crescente, desemprego, salários desvalorizados.

Quantos sonhos ficam engavetados? Quantas vontades são sufocadas? E quantos recorrem ao desespero financeiro por não verem alternativas saudáveis? Estamos cercados por múltiplas exigências que sufocam nossa alma e nos roubam o fôlego da fé.

Tentamos conciliar tudo em 24 horas que parecem cada vez mais curtas. E, nesse processo, a espiritualidade vai sendo empurrada para um canto da vida. O culto é deixado de lado, o devocional se torna raro, a leitura bíblica perde prioridade.

A alma vai murchando. O espírito se entristece. O coração se esfria. O mundo nos engoliu com suas propostas de progresso, redes sociais, entretenimentos e pseudo-soluções que apenas aprofundam a nossa angústia.

No sermão da noite, ouvimos sobre o apóstolo Paulo e suas prisões em Atos 23. Perseguições, tramas e emboscadas marcaram sua caminhada. No entanto, ele mantinha o foco em Cristo e não como uma opção secundária, mas como a razão de tudo.

O nosso pastor “Carlos”, ao comentar esse texto, nos desafiou a refletir sobre o peso da eternidade comparado com aquilo que achamos precioso demais para perder. E se fôssemos chamados a perder tudo por causa de nossa fé? Será que permaneceríamos firmes? Será que temos vivido de forma digna da nossa vocação cristã?

Outra citação foi a de Mateus 5:20 em que foi um divisor de águas: “Porque eu afirmo que, se a justiça de vocês não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrarão no Reino dos Céus.” Se até ateus, agnósticos e membros de seitas vivem com mais zelo por suas causas do que nós por Cristo, há algo profundamente errado.

Não podemos nos declarar filhos de Deus enquanto vivemos de maneira espiritual medíocre. Porque? ele menciona Atos 1:8 que nos lembra que recebemos poder do Espírito Santo e esse poder nos habilita a sermos testemunhas vivas, coerentes e ousadas.

Então, como equilibrar tudo isso? Como viver a fé em meio às pressões sem negligenciar as responsabilidades da vida? A resposta está em um coração rendido. Não se trata de tempo livre, mas de prioridades. De buscar o Reino em primeiro lugar, não quando sobra espaço.

De reorganizar o coração, não apenas a agenda. Deus não nos chamou para vivermos em desespero espiritual, tentando encaixá-lo entre reuniões e boletos. Ele nos chamou para uma vida de confiança, obediência e entrega. Quando o coração está em Cristo, mesmo as tarefas mais simples se tornam atos de adoração.

Mesmo em meio à correria, a Palavra de Deus nos convida a ressignificar o propósito de tudo o que fazemos: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor e não para as pessoas” Colossenses 3:23. Isso muda completamente a nossa perspectiva.

Não lavamos a louça, cuidamos dos filhos, trabalhamos ou estudamos apenas por obrigação ou reconhecimento humano, mas como forma de adoração a Deus. Isso nos consola, especialmente nos dias em que nos sentimos cansados ou invisíveis, pois sabemos que Deus vê, valoriza e recompensa cada atitude feita com fé e sinceridade.

A frustração se transforma em devoção quando entendemos que viver para Cristo é viver com propósito, mesmo nas coisas mais corriqueiras da vida. Não é sobre abandonar as responsabilidades, mas sobre lembrar para quem vivemos enquanto as cumprimos.

É possível cuidar dos filhos com excelência e ensinar-lhes o temor do Senhor. É possível trabalhar com integridade e manter os olhos na eternidade. É possível viver a fé no meio do caos, mas isso só acontece quando reconhecemos nossa fraqueza e nos lançamos na suficiência de Cristo.

Precisamos parar de apenas sobreviver. É hora de viver com propósito, com foco, com fé viva. Não deixe o mundo moldar sua vida espiritual. Não aceite como normal viver sufocado e distante de Deus. Reorganize o coração. Reencontre a cruz. Reacenda o altar.

Pois, no final, o que importará não será quanto você conquistou, mas quanto de Cristo foi visto em sua vida. A eternidade exige urgência. E a fé verdadeira não tem plano B. É tudo por Ele ou é nada.

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