Uma pregação que desestimula o estudo da Bíblia e classifica essa busca como “espírito de soberba” demonstra um grave equívoco teológico.
A Palavra de Deus nunca desencoraja o estudo diligente, pelo contrário, ordena que os cristãos conheçam e manejem corretamente as Escrituras.
Essa visão anti-intelectual não apenas despreza o ensino bíblico, mas também priva os crentes da capacidade de discernir a verdade da mentira.
A primeira afirmação do pregador – que estudar a Bíblia não é de Deus – contradiz frontalmente 2 Timóteo 2:15: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”
O próprio apóstolo Paulo instrui Timóteo a se esforçar no conhecimento das Escrituras, e esse princípio se aplica a todos os cristãos. Como alguém pode crescer na fé sem conhecer profundamente aquilo que Deus revelou?
A segunda declaração, que estudar a Bíblia é “insatisfação com o que Deus te deu”, distorce o conceito de contentamento.
O desejo de aprender mais sobre Deus não é rebeldia, mas um mandamento. Provérbios 4:7 ensina: “O princípio da sabedoria é: adquire sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento.”
Se buscar entendimento fosse pecado, Salomão não teria pedido sabedoria a Deus (1 Reis 3:9). A verdadeira insatisfação perigosa é a que rejeita o conhecimento divino, pois Oséias 4:6 declara: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento.”
Ao afirmar que é melhor que alguém se retire do meio do povo de Deus do que discernir, esse pregador está indo contra o próprio Senhor Jesus.
Cristo nunca rejeitou aqueles que buscavam compreender a verdade; pelo contrário, Ele incentivava com perguntas e explicações.
Em Mateus 22:29, Ele repreende os fariseus dizendo: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” Se o próprio Jesus exorta ao conhecimento das Escrituras, como pode um pregador moderno dizer que buscar entendimento é pecado?
Por fim, a comparação de João Batista com um professor de teologia ignora o contexto bíblico. João Batista não foi enviado para substituir o ensino das Escrituras, mas para preparar o caminho do Senhor.
Além disso, Jesus chamou mestres e apóstolos para ensinarem a Palavra, como o apóstolo Paulo, que passou anos explicando e defendendo a doutrina cristã (Atos 17:2-3, 2 Timóteo 4:2). O próprio Cristo era chamado de “Mestre” (João 13:13), e o ensino sempre teve um papel central no plano de Deus.
Essa pregação é, portanto, um grave erro teológico que promove a ignorância e enfraquece a fé dos ouvintes. Um cristão que não conhece a Palavra está vulnerável a heresias e manipulações.
Deus não deseja um povo ignorante, mas sim sábio e instruído. A pergunta que fica é: se o próprio Deus inspirou as Escrituras para nosso ensino (2 Timóteo 3:16-17), por que alguém tentaria impedir os crentes de estudá-las?
Comentários
Postar um comentário