A coerência doutrinária dentro de uma igreja é essencial para a saúde espiritual de seus membros e para a fidelidade ao verdadeiro Evangelho. Quando há uma discrepância entre aquilo que se prega e aquilo que se canta, cria-se um ambiente de confusão, onde a teologia proclamada nos púlpitos entra em choque com a mensagem exaltada nos louvores.
Essa contradição compromete a clareza da fé cristã e pode desviar as pessoas do entendimento correto da salvação e da graça de Deus. Muitas igrejas que defendem a salvação por obras entoam hinos que exaltam a segurança da redenção em Cristo.
Como uma igreja pode cantar sobre uma salvação garantida pela graça e, ao mesmo tempo, pregar que os fiéis precisam alcançar o céu por méritos próprios? Esse paradoxo afeta a vida espiritual dos membros, gerando incerteza e afastando a igreja da verdadeira mensagem do Evangelho.
Para ser fiel às Escrituras, a igreja deve garantir que sua doutrina esteja alinhada com o que canta, prega e pratica. Muitos hinos destacam a segurança da salvação pela graça: "Salvo estou por Jesus, o meu bom Salvador"; "Cristo salvou-me, tenho certeza"; "Salvo por seu poder, salvo por seu amor". A Bíblia reforça essa verdade em passagens como Efésios 2:8-9, Romanos 3:23-24 e Tito 3:5.
Se uma igreja prega que a salvação depende das obras, sua doutrina se aproxima do pelagianismo ou semipelagianismo legalista, que mistura graça com méritos humanos. Essa incoerência causa confusão doutrinária.
Os membros ouvem nos hinos que "Cristo já nos salvou", mas, na pregação, aprendem que precisam "merecer a salvação". Isso gera dúvidas: A salvação vem pela graça ou precisa ser conquistada? Se Cristo já me salvou, por que ainda preciso provar meu valor? Essas questões podem levar à ansiedade espiritual e ao desânimo na fé, pois ninguém consegue cumprir a Lei perfeitamente (Romanos 3:20).
Ademais, cantar sobre a graça enquanto se prega um evangelho de esforço próprio cria hipocrisia litúrgica. A adoração se torna incoerente, proclamando algo que a igreja, na prática, não crê ou ensina corretamente. Isso pode gerar divisão entre os membros, pois alguns confiam na graça, enquanto outros vivem sob o peso do legalismo.
O maior problema dessa contradição é o desvio do verdadeiro Evangelho. O apóstolo Paulo condenou essa deturpação em Gálatas 1:6-9, alertando contra qualquer evangelho que adicionasse exigências humanas à salvação pela fé.
Cristo ensinou que a salvação vem pela fé n'Ele e que as boas obras são uma consequência dessa fé, não uma condição para a salvação (João 3:16; 6:29; Efésios 2:10). O que falta é um ensino bíblico sólido sobre a graça de Deus. A igreja precisa esclarecer que a salvação é um dom irrevogável de Deus e que as boas obras são um fruto da salvação, não sua causa.
Para isso, é necessário aprofundar os estudos bíblicos sobre passagens como Efésios 2:8-9, Romanos 5:1-2 e João 10:27-29. A liderança deve decidir se realmente crê na salvação por obras e, nesse caso, abandonar os hinos sobre a graça (o que seria trágico), ou se crê na graça e deve corrigir sua pregação para se alinhar às Escrituras. A coerência é essencial para que os membros não vivam uma fé dividida entre aquilo que cantam e aquilo que ouvem nas pregações da palavra.
Outro ponto fundamental é entender a diferença entre salvação e galardões. A Bíblia ensina que existem recompensas para os crentes fiéis (Mateus 6:20; 1 Coríntios 3:14), mas isso não tem relação com a salvação. É essencial que os pregadores esclareçam essa distinção para evitar uma mentalidade meritocrática entre os fiéis.
A solução para essa incoerência é reformar a teologia da igreja. Isso significa ensinar claramente que a salvação é pela graça mediante a fé, abandonar ensinos legalistas e garantir que os hinos e pregações estejam alinhados com a Palavra de Deus.
Também é necessário investir na educação bíblica dos membros, incentivando a leitura das Escrituras para que a fé esteja firmada na Bíblia e não apenas em tradições denominacionais. A incoerência entre a doutrina e os hinos não é apenas um problema litúrgico, mas um problema teológico grave.
Se a igreja prega a salvação por obras enquanto canta sobre a graça de Cristo, ela está ensinando dois evangelhos diferentes, confundindo seus membros e distorcendo a verdadeira mensagem da cruz. A solução não está em mudar os hinos, mas sim em reformar sua teologia para que seja fiel às Escrituras.
Uma igreja saudável deve ser coerente naquilo que canta, prega e pratica, sempre centrada na verdade do Evangelho de Jesus Cristo.
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